Não dá para aprofundar o debate em uma postagem de rede social (essa publicação foi inicialmente desenvolvida para o Instagram), mas é possível propor reflexões. Críticas das mais variadas foram, estão sendo e serão (ainda) feitas sobre a apuração da Imprensa no tocante à morte da estudante de Jornalismo da UFPI, Janaína da Silva Bezerra, de 21 anos. As críticas são saudáveis, pertinentes e ajudam o amadurecimento de qualquer trabalho quando propõem soluções palpáveis, fora disso, são apenas ignorância.
Então, primeiro ponto. A equipe do Portal RP50 esteve no Hospital da Primavera por volta das 11h no sábado (28.01.23), assim que a PM foi acionada após seu óbito ser constatado e Thiago Mayson, principal suspeito, ser detido. Lá a equipe ficou até a chegada dos pais da jovem e os entrevistou. Até aquele momento, a PM não tinha muitos detalhes, o hospital tampouco, a família menos ainda. O fato concreto era: uma moça foi achada desacordada na UFPI, levada ao hospital, onde se constatou que já estava morta. Noticiamos.
Quem a levou ao hospital e como levou naquele momento era uma informação menor diante da tentativa de entender como Janaína havia sido morta e se alguém teria praticado o crime ou não. O Jornalismo trabalho com “princípios de noticiabiliadade” e alguns fatos pesam mais que outros na apuração. Naquele momento queríamos focar em como a morte se deu.
Segundo ponto. Em casos como esse, de vultosa repercussão, as fontes oficiais se esquivam de passar informação para evitar notícias imprecisas. Polícia evita falar, hospital também e quem está sob tutela do Estado, no caso, o preso, fica inacessível. Assim, nenhum veículo conseguiu naquele sábado e até agora entrevistar o Thiago, por exemplo. Então quando as pessoas perguntam por uma informação que não foi divulgada é porque não se teve acesso ainda a ela ou não se pôde confirmar e o melhor é não publicar.
Terceiro ponto. “Cadê o rosto do bandido, por quê ninguém cita o nome? É filho de bacana?” É totalmente compreensível para nós, Jornalistas, que o público queira esses detalhes pra ontem, mas para o público não está claro que devemos seguir alguns ritos nesse tipo de apuração. Se até meio dia do sábado ninguém sabia como a morte havia acontecido, era precoce divulgar rosto de quem quer que tivesse envolvido. Qualquer pessoa pode ter sua reputação manchada ou destruída dessa forma.
Entretanto, no domingo (29), saiu o laudo do IML. Janaína realmente foi assassinada. Pior que isso, fora estuprada com requintes de violência, segundo o resultado do exame. Depois, o delegado Antônio Nilton pediu a prisão preventiva de Thiago e, na sequência, a juíza Haydee Lima de Castelo Branco a decretou. A Imprensa tinha o Estado e a Justiça colocando o estudante como acusado de um inquérito, com prisão e tudo. Ali era o momento de mostrar quem era esse suspeito. Noticiamos.
Ainda no sábado (28), o Portal RP50 acompanhou a perícia realizada pela Polícia Civil no campus da UFPI. Nossa equipe abriu uma live, vista por mais de 40 mil pessoas, de 23 minutos no Instagram mostrando o trabalho dos agentes e atualizando as informações em tempo real, o que nenhum outro veículo do Piauí fez. Também fizemos registros em fotos e publicamos matéria no site. Naquele momento informamos que foram encontrados vestígios de sangue em um colchão, uma mesa e nos corredores do local, além de preservativos e bebidas alcoólicas.
Importante ressaltar que aquele foi um sábado atípico. Teresina registrou 5 assassinatos em menos de 24h e 2 homens sofreram tentativa de homicídio em um lava jato. É difícil para qualquer veículo cobrir tantos ocorrências acontecendo ao mesmo tempo, porém mesmo com uma equipe enxuta, o RP50 conseguiu cobrir todos os casos com responsabilidade, ética, segurança e levou as informações ao público.
Quarto ponto. O feminicídio de Janaína levanta outras discussões importantes que também merecem destaque na Imprensa: segurança e recreação na UFPI, cultura do estupro, machismo, violência contra a mulher. Mais do que isso, há ainda diversas perguntas sem respostas. Thiago estava com um amigo quando foi encontrado pelos seguranças da UFPI carregando a vítima. Quem era essa segunda pessoa? Pelo seu depoimento, Thiago e o amigo passaram pelo menos 2h30 com Janaína na sala da UFPI. O que aconteceu durante esse tempo?
Até aqui identificamos que o público leitor fez críticas e questionamentos. Como dissemos, é entendível. Agora, também vimos jornalistas criticarem os próprios colegas sobre a apuração. Não que estejamos em um pedestal, mas quase sempre a própria classe não defende suas prerrogativas, como fazem muito bem, por exemplo, os advogados. O Brasil vive um momento de descrédito das instituições: Política, Justiça, Polícia hoje são vistos com desconfiança pela população e a Imprensa também.
Conseguimos notar alguns responsáveis. Num país dividido pelos extremos, a direita e a esquerda vivem se acusando de espalhar fake news, isso respinga na Imprensa. Quando artistas, personalidades, influencers tem fotos vazadas ou se envolvem em escândalos atacam a Imprensa. E os jornalistas e veículos que só entregam matérias, sem análises, sem debate, sem posicionamento e se mantém distante da própria audiência contribuem para o fortalecimento dos ataques.
O modo de fazer Comunicação mudou, também não dá para aprofundar aqui, mas um site, uma TV, uma rádio é pouco para o feedback e buzz que a notícia divulgada gera. A notícia não se encerra com a publicação. O papel e participação do jornalista também não. As redes sociais dos veículos precisam de um SAC e a população carece entender que apurar um fato, mesmo nos dias de hoje, às vezes demora e nem todas as comunidades na internet possuem esse preparo, logo não merecem respaldo ou credibilidade. É preciso saber em quem confiar, quem seguir, quem divulgar, compartilhar etc.
Por Valciãn Calixto
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