Com exclusividade, a equipe RP50 de Jornalismo apurou que pelo menos quatro pais de alunos do Centro de Ensino Padre Delfino, localizado na Rua José Simões Pedreira, bairro Mangueira, região do Centro da cidade de Timon, registraram Boletim de Ocorrência junto à Polícia Civil do Maranhão após as carteiras estudantis de seus filhos serem riscadas com siglas de facções criminosas e ameaças de assassinato com data marcada.
O padrasto de um dos estudantes entrou em contato a redação RP50 na tarde do último sábado (25.06.22), quando relatou a situação. De acordo com o homem, que prefere não se identificar temendo represálias, os alunos com perfis mais quietos estão sendo alvos dessa “brincadeira”. Ele informou que os discentes entregam a carteirinha no início da aula para acessarem a escola e a recebem no final do turno. O documento fica guardado em uma caixa, sob cuidado da direção, que é levada até à sala para que o professor faça a entrega no último horário. Quando o jovem recebeu, já constavam as ameaças. O fato aconteceu na última sexta-feira (24.06.22).
“Cara, preciso falar contigo sobre um assunto de extrema delicadeza. Na Escola Padre Delfino tem um filho meu que estuda, menino de 17 anos, no último ano, quieto, não fala com ngm e nem gosta de arruaça. Agora na escola começaram a pegar as carteirinhas deles e escrever siglas de facção, jurando de morte e ontem quando minha esposa foi na delegacia, já tinha mais 4 pais lá com a mesma situação e da mesma escola e sempre com os jovens com as mesmas características, quietos e que não fazem nada contra ninguém. Fizemos o boletim de ocorrência e os outros pais tbm, mas vou tornar isso público porque isso não pode acontecer. E minha esposa procurou a diretoria e a diretora simplesmente disse pra não se preocupar, que isso é coisa de criança”, explicou.
Na parte traseira em uma das carteirinhas é possível ler a ameaça datada “vai morrer B.40, tá marcado [nome do aluno borrado], data 20.07.22”. Já na frente, no espaço onde devia ser colada a foto do estudante, está escrita a sigla “PCC” e desenhada uma cruz.
Quando Enzo*, de 17 anos, chegou em casa no final daquela tarde, relatou a situação para a mãe, que retornou ao colégio em busca de explicações junto à Diretoria e, em seguida, dirigiu-se à Central de Flagrantes de Timon, onde registrou o Boletim de Ocorrência. O caso foi registrado como “Ameaça”, conforme o artigo 147, do Código Penal Brasileiro.
Outro lado
A equipe RP50 de Jornalismo tentou contato e após algumas ligações, a diretora da unidade escolar, identificada apenas como Rosilene, atendeu a reportagem e relatou estar ciente dos acontecimentos. “Estamos cientes, informamos à polícia e estamos tomando todas as providências cabíveis, inclusive, nesse momento estou indo falar com o coronel [Sousa]”, informou. O PM citado é o atual comandante do 11º Batalhão de Polícia Militar, que responde pela região.
Ameaças de Massacre no Piauí
Do outro lado da ponte, em Teresina, capital do Piauí, uma pichação feita no banheiro do Colégio Sagrado Coração de Jesus (CSCJ), mais conhecido como Colégio das Irmãs, causou certo furor nas redes sociais, preocupando pais e obrigando a direção da escola a publicar uma Nota de Esclarecimento. Um aluno teria escrito “Massacre 23/06/22” usando um pincel.
A direção do CSCJ classificou a atitude do aluno, cuja identidade foi preservada, como “um ato indisciplinar, brincadeira de mau gosto”. Na data escrita na mensagem, policiais militares estiveram no prédio da unidade para garantir que o caso não passasse de boato.
Já no último 19 de maio do corrente ano, situação semelhante ocorreu no interior do Estado, no Espaço Educativo Edmar Lima do Monte, escola municipal de Castelo do Piauí, situada a 185 quilômetros de Teresina. Os pais dos estudantes teriam procurado a direção após a mensagem “Masacre 20/05/2022”, escrita com grafia errada também no banheiro da unidade.
“Chegamos ao fato e aos envolvidos. Não daremos nomes, […] entendemos que tudo não passou de mal entendido, seguido de uma peraltice de adolescente”, diz trecho da nota de esclarecimento divulgada pela direção escolar.
Dias antes, novamente em Teresina, e também com grafia incorreta, a palavra ‘massacre’ foi escrita ‘mazacre’ no banheiro masculino no CETI Modestina Bezerra, situado na zona Sudeste da capital. A palavra teria sido escrita no dia 10 de maio. Uma guarnição da Companhia de Policiamento Escolar (CIPE) frequentou a escola nos dois dias seguintes e nada foi registrado. As aulas seguiram normalmente.
As três ocorrências no Piauí foram amplamente divulgadas pela mídia local.
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*nome fictício para preservar a identidade do estudante.